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Ave Sangria: “Vamos seguir na estrada que juntos trilhamos por tanto tempo”

Com a perda do guitarrista Paulo Rafael, banda que marcou o rock psicodélico seguirá com Marco Polo e Almir e integrantes da nova geração da música

Hei de carregar a frustração de não ter vivido os áureos das vitrolas, ebulições musicais e revoluções ritmadas por escrachos e ironias necessárias. Alucinante que foi culturalmente a década de 1970, apesar da censura, mote da ditadura da época.

“Da época”? Permitam-me leitores, uma pausa para reflexão… Já refleti: qualquer semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência. Tampouco a indispensabilidade de que volte a pairar em nossos ouvidos grupos como o Ave Sangria e toda a recorrência lírica (e/ou pesada) que transborda do cancioneiro da banda que, apesar dos tantos pesares – o mais recente, a morte de Paulo Rafael no último 23 de agosto, vitimado por um câncer no fígado – segue ávida.

A perda do guitarrista, um dos grandes do País, e integrante da formação original do grupo que marcou a cena psicodélica pernambucana, segue deixando incrédulos Marco Polo e Almir, remanescentes da banda que hoje conta com Juliano Holanda, Gilú Amaral, Júnior do Jarro e Breno Lira – este o “substituto” de Paulo para projetos que devem ser retomados assim que as circunstâncias e a dor da perda amenizarem.

“Confesso que ainda não assimilei, ainda estou em negação”, resumiu Marco Polo, 73. “Estou sentindo o baque da partida de Paulinho. Talvez dure mais um tempo para que eu venha sentir de outra forma”, complementou Almir, 72, que na música tem mais de cinco décadas – na Ave Sangria esteve na primeira fase (1972 a 1974), retornou em 2014 e segue até então. Tal qual Marco Polo, na banda desde o início quando ainda se chamava “Tamarineira Village”.

Ambos, parceiros de vida e de arte de Paulo Rafael, souberam da doença em maio de 2020. “Foi quando ele me revelou a gravidade da situação. Ele parecia seguro de que ia se recuperar, mantinha uma postura otimista. A última vez que tivemos contato foi no aniversário dele (11 de julho) e parecia que tudo ia dar certo, mas ele morreu vinte e poucos dias depois”, conta Marco. O mesmo dia também foi o da última conversa de Almir com Paulo.

“Eu acreditava que ele ia superar e voltar à ativa, com a alegria e energia que marcaram sua vida e sua guitarra”. De fato, eram cordas exultantes, típicas de quem foi um grande músico. “Além de um ser humano gentil, paciente e generoso”, completa Marco Polo.

Foi com “Vendavais” (2019), segundo álbum de estúdio da banda depois de 45 anos sem alçar voos no mercado – o último disco datava de 1974 (“Ave Sangria”) – que o trio Marco Polo, Almir e Paulo Rafael se reuniu pela derradeira vez. O trabalho trouxe onze faixas inéditas com “Em Órbita” assinada por Paulo e pelo instrumento que o fez gigante, inclusive, fora da Ave Sangria. Com Alceu Valença, por exemplo, introduziu “Anunciação” e a fincou na posteridade da música brasileira.

“ ‘Vendavais’ foi um momento inesquecível. A presença de Paulo na cena do rock psicodélico e sua carreira deixam um legado marcante. Estávamos com projetos para a banda, mas vamos seguir na estrada que juntos trilhamos por tanto tempo, e honrar o amor e a luta do quarteto que começou conosco e partiu para outro plano da existência”, comenta Almir, em menção a outro companheiro da banda Ivson Wanderley, o Ivinho (1953-2015).

Paulo Rafael, guitarrista Crédito: Paulo Almeida/Folha de Pernambuco

“Paulo gostaria de que fizéssemos isso”, reforça Marco Polo, autor de “Ser”, faixa de “Vendavais” e que traz nos versos “Nascer depois de cada batalha perdida e saber que a vida ainda tem muito pra dar e receber (…) “Toda vida pode ser inverno. Toda vida pode ser Carnaval”, alento para a espera do que está por vir. “Estamos em conversação sobre os trabalhos que iremos fazer a partir de agora”, promete Almir, sob resquícios da saudade de quem perdeu um “amigo/irmão/parceiro de todas as horas”.

FolhaPE

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